Estapafúrdios, livro de estreia de Renê Fernandes, é um livro psicológico, em que os personagens são geralmente excêntricos e, muitas vezes, o autor nos faz entrar dentro de suas mentes. Um passeio instigante onde realidade e imaginação, por vezes, se confundem e se entrelaçam. O leitor vai sendo cuidadosamente levado a uma espécie de labirinto onde paira o suspense e é impossível prever o que virá na próxima página. Estapafúrdios traz como tema central a reflexão: o quanto realmente conhecemos as pessoas que estão à nossa volta? E o quanto nós mesmos nos conhecemos? Como nesses trechos do conto “O manuscrito de Merlina”, em que Luizinho está lendo o manuscrito de sua amiga Merlina: “...minha amiga escreveu coisas ‘absurdas’ sobre si mesma e sobre as pessoas de seu convívio. E quando falo absurdas, quero deixar claro que nem de longe imaginaria Merlina pensando ou falando nada do que ali estava escrito. “Quanto mais lia aquelas palavras, mais tinha certeza de que nunca conheci Merlina de verdade. Cheguei a cogitar se tinha sido ela mesma a escrever aquelas linhas, mas não tinha como negar: a letra perfeita como desenhava era inimitável, única. Tive vontade de rasgar todas as folhas daquele caderno; ao mesmo tempo, não conseguia parar de ler”. Ou ainda, neste outro trecho do conto “Memória”, no qual o próprio personagem não se reconhece: “Passou a mão pelo rosto demoradamente e pode sentir a flacidez da pele. Aquilo era absurdo demais, era um jovem, não um velho! O que estaria fazendo no corpo de outra pessoa?”.